Nas plantas, a sexualidade é ligeiramente complicada. Mas para comer cerejas, não há segredo, é preciso interessar-se!
Flores e pólen
Numa flor, há em geral uma parte fêmea (o pistilo) e uma parte macha (as estames). Às vezes, os sexos são separados sobre flores diferentes, trazidos numa só planta ou sobre pés machos e pés fêmeas, como no kiwi ou no azevinho. Neste caso, só as flores fêmeas e os pés fêmeas (se os sexos são separados por pé) vão dar frutos. O pólen é neste caso indispensável à transformação da flor em fruto.
A fecundação da flor (diz-se também polinização) é assegurada pelos que saqueam (abelhas, zângões, etc.) ou pelo vento, como nas aveleiras e nas plantas da família das gramineas. Para que a parte fêmea da flor transforme-se em fruto, é preciso que o pólen seja capaz de fecundar-a. E é aí que a natureza decidiu complicar ligeiramente as coisas.
Compatibilidade não universal
Na maior parte das plantas, o pólen oriundo de uma outra flor da mesma planta é suficiente para assegurar a presença de frutos. Diz-se então que a planta é autofértile. Às vezes, é o pólen da flor própria que fecunda a parte fêmea da planta. Neste caso, não é preciso de polinizadores, como em alguns tomates e trata-se então de autopolinização.
Mas em muitas outras plantas, em especial as árvores frutíferas (macieiras, ameixeiras, cerejeiras sobretudo), o pólen produzido por uma árvore não pode fecundar suas flores fêmeas. Há uma auto incompatibilidade e a árvore é dita autoestéril. Deve então fazer a fecundação cruzada para dar frutos, ou seja beneficiar do pólen oriundo de um outro sujeito, ou até de uma outra variedade. Neste caso, a presença dos que saqueam é absolutamente indispensável para veicular o pólen de uma árvore a outra !
Árvores variadas, colheitas asseguradas
Mas a consequência a mais imediata para o jardineiro, é que quando o objectivo procurado é a producção de frutos (a comer ou decorativos, como as bagas), é necessário plantar várias variedades de uma mesma planta. Se plantar só uma cerejeira, tem a garantia de não comer cerejas nenhumas, a não ser que tenha nos arredores (na proximidade - menos de 200 m) cerejeiras. Senão, a cerejeira em questão, sobretudo se trata-se de ginja, não encontrará o pólen necessário à fecundação das suas flores e portanto não haverá fruto.
Mas até no caso de variedades ditas autófertis, as colheitas serão sempre melhores se planta-se várias variedades lado a lado. A autopolinização não funciona à 100% e se as flores beneficiam de fontes variadas de pólen, as possibilidades de transformar-se em fruto serão muito mais importantes.
Moralidade: não plante uma árvore frutiféra sozinha, ofereça-lhe companhia !